MIL DIAS DE OURO


Duzentos e setenta dias de gestação (40 semanas) + 365 dias do primeiro ano + 365 dias do segundo ano de vida. Tudo isso de dias somados chega a 1000, acredite! Os primeiros MIL DIAS do bebê são conhecidos como "dias de ouro".

Os dias de ouro se iniciam na concepção do bebê, quando ele ainda é um embrião! Hoje em dia, já se fala em 1100 dias de ouro, pois o período antes da gestação, de preparo do corpo para receber o bebê, é muito importante. Esses dias são considerados a base para o desenvolvimento global do bebê, para o que ele vai ser até a vida adulta, em termos físico, cognitivo e neuropsíquico/emocional. Vamos entender um pouco sobre os pilares do desenvolvimento a seguir. 

No início dos mil dias de ouro, o tubo neural, que formará o sistema nervoso central, fecha-se até o final da 4a semana de gestação, a maioria das vezes antes mesmo da mulher saber que está grávida! É importante a suplementação de ácido fólico pela mulher, antes de gestar e durante os primeiros meses, ingrediente necessário para o fechamento adequado do tubo neural. Infecções congênitas (que o bebê adquire dentro do útero) e o uso de álcool e outras substâncias também podem interferir negativamente no desenvolvimento do sistema nervoso do feto, desde a primeira semana de gestação até o final. 

Após o nascimento, o cérebro da criança chega até 75-80% do seu tamanho até os 2 anos de idade (cresce muito rápido!!). A formação de sinapses (conexões neurais) acontece com a maior intensidade e velocidade de toda a vida até os dois ou três anos de idade e as sinapses formadas nessa fase são mantidas até a adulto, quando se formam pouquíssimas novas sinapses (e durante as podas neuronais, algumas sinapses menos utilizadas são eliminadas na infância). Estima-se que 90% das sinapses sejam formadas até os 6 anos de idade.

 Crianças submetidas a estresse tóxico desde muito novas apresentam sequelas na vida adulta, com alteração cerebral e na formação de sinapses, podendo resultar até em obesidade futura, síndrome metabólica, depressão ou transtorno de ansiedade no adulto.

São nos primeiros anos, também, que a criança aprende (ou desaprende) habilidades de vida futura como autoconfiança, autoestima, resiliência, empatia, a depender da forma com que se relaciona com seus cuidadores.

Por isso, é fundamental que a criança seja adequadamente estimulada desde bebê, que tenha vínculo, receba afeto, contato visual, que seja acalentada, ouça músicas, histórias, sons, dance, brinque muito, para que se desenvolva em seu potencial, ainda nessa fase da vida. O acesso a telas (televisão, celular, tablet) é também prejudicial para o desenvolvimento do bebê, atrasando o desenvolvimento da linguagem, da atenção, da visão e diminuindo a interação humana. 


A formação do microbioma humano é outro pilar fundamental dos primeiros mil dias de ouro. O microbioma são todos os microrganismos que habitam nosso corpo e, os que vivem no intestino são a microbiota intestinal. A via de parto, a nutrição da gestante e, após o nascimento, o contato pele a pele, a nutrição do próprio bebê, como leite materno e alimentos saudáveis até, pelo menos, os 2 anos de vida, são fortes influenciadores na formação deste microbioma. O uso de antimicrobianos altera a microbiota intestinal. 

 O microbioma humano, mais especificamente a microbiota intestinal, estão sendo cada vez mais relacionados a doenças, como câncer, alergias ou até a déficit cognitivos, doenças neurológicas e transtornos psiquiátricos na vida adulta. 

A nutrição da criança está relacionada ao desenvolvimento cognitivo, motor e crescimento. Por exemplo, a falta de ferro pode levar a anemia, que, se não tratada, leva a atraso no desenvolvimento cognitivo e menor ganho de peso, na sequência, de estatura. Deficiência de vitamina B12, por exemplo, pode interferir no desenvolvimento do sistema nervoso, alterações motoras e também levar a quadros de anemia. A falta de vitamina D diminui a absorção de cálcio e pode levar a alterações ósseas e raquitismo, além da associação com falhas na imunidade. Todos estes nutrientes são obtidos através da alimentação e alguns precisam ser suplementados nos primeiros anos de vida. 


Lendo assim, até parece uma missão impossível criar um bebê! Não é difícil, mas exige dedicação e cuidado. A relação estreita com o pediatra e consultas de puericultura regulares fazem diferença. Um olhar global para a criança e suas relações familiares é o início do sucesso. Fique de olho nos próximos textos do Blog da Saúde!



Dra. Ana Carolina Marcos de la Barra

CRM/SP 128.882


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